Parecia uma boa ideia na época: Com a grande incidência de alergia ao amendoim entre as crianças, a Academia Americana de Pediatria aconselhou os pais no ano de 2000 para mantê-lo longe de bebês e crianças pequenas que pudessem ter uma reação severa.

Mas, um novo estudo sugere que o conselho fez mais mal do que bem.

Um ensaio clínico muito aguardado descobriu que crianças pequenas que evitaram o amendoim nos primeiros cinco anos de suas vidas foram até sete vezes mais suscetíveis de terem uma alergia a ele do que as crianças que o comiam, pelo menos, três vezes por semana.

Os resultados foram apresentados na reunião anual da Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia e publicado online pelo New England Journal of Medicine.

“Os resultados têm o potencial de transformar a forma como abordamos a prevenção da alergia alimentar”, Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, comunicou. O instituto ajudou a financiar o estudo.

Os resultados do estudo oferecem apoio para a chamada hipótese da higiene, que vincula o aumento das alergias e doenças autoimunes ao ambiente ultra-estéril possível graças ao uso de sabonetes antibacterianos, desinfetantes e outros produtos de limpeza que se tornaram marcas da vida moderna.

De fato, um estudo publicado na revista Pediatrics descobriu que crianças cujas famílias usavam máquinas de lavar louça eram mais propensas a ter alergias do que crianças cujas louças eram lavadas à mão desde que o excesso de limpeza rouba do sistema imunitário a oportunidade para desenvolver resistência aos germes e outras substâncias que os seres humanos utilizavam regularmente.

O resultado é uma menor tolerância imunitária – e mais alergias. Os autores confirmam que atualmente cerca de 3% das crianças nos países desenvolvidos são alérgicas a amendoins. A taxa triplicou nos EUA em menos de duas décadas, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Apesar da alergia aos ovos e leite de vaca ser mais comum, a alergia ao amendoim é mais propensa a ser fatal e geralmente persiste por toda a vida, e seu alarmente aumento levou à proibição de amendoins em escolas, companhias aéreas e outros locais.

A evidência anedótica para a hipótese da higiene veio de um estudo de crianças judias de 2008. Algumas viviam na Grã-Bretanha, onde não comiam amendoim até que tivessem pelo menos um ano de idade, outras viviam em Israel, onde começaram a comer alimentos feitos com amendoim, quando ainda tinham 7 meses de idade.

Embora ambos os grupos de crianças tivessem um “background genético similar,” as britânicas foram 10 vezes mais propensas a ter alergia ao amendoim do que suas contrapartes em Israel.

Alguns dos médicos e especialistas que trabalharam no estudo se propuseram a testar a hipótese da higiene, e inscreveram 640 crianças no estudo Learning Early about Peanut Allergy (em português, Aprendendo Cedo sobre a Alergia ao Amendoim) – apelidado de LEAP. Todas as crianças eram consideradas sob-risco de desenvolver alergia ao amendoim porque já eram alérgicas a ovos ou sofriam de eczema grave, uma doença de pele que pode ser causada por alergias.

Todas as crianças tinham entre 4 e 11 meses de idade quando entraram para o estudo e os pesquisadores realizaram um teste de picada na pele para ver se apresentavam qualquer sensibilidade ao amendoim no início do estudo. Em seguida, elas foram aleatoriamente designadas para consumir, pelo menos, 6 gramas de proteína de amendoim por semana – na forma de uma manteiga de amendoim ou um lanche de amendoim chamado “Bamba”- ou para evitar o amendoim completamente.

As crianças que apresentaram alguma sensibilidade ao amendoim e estavam no grupo designado a comer amendoim tiveram que passar por um desafio alimentar de amendoim para se certificarem de que poderiam lidar com a sua atribuição. Seis foram realocadas para o grupo sem amendoim.

Os pesquisadores examinaram as crianças em dois grupos – os 85% que não tiveram sensibilidade ao amendoim no início do estudo e os 15% que já estavam desenvolvendo alergia a ele.

Em ambos os grupos, os resultados foram surpreendentes.

Entre as crianças com nenhum sinal de alergia ao amendoim no início do ensaio, 13,7% das que o evitaram se tornaram alérgicas no momento em que completaram 5 anos, mas entre as que o comiam regularmente, apenas 1,9% se tornaram alérgicas. Isso equivaleu a uma redução relativa de 86% no risco de alergia ao amendoim, os autores do estudo descobriram.

A exposição ao ingrediente estudado também foi útil para as crianças que já estavam no caminho de sua alergia. Entre as crianças de 5 anos, a taxa de alergia para aquelas que evitaram o amendoim foi de 35,3%, em comparação com apenas 10,6% para aquelas que o comiam e que resultou numa redução de 70% no risco.

Os pesquisadores foram capazes de coletar amostras de poeira das camas de quase dois terços das crianças no final do estudo. As crianças que comiam amendoim tiveram uma média de 91,1 microgramas de partículas do ingrediente no pó da cama, enquanto as que evitaram comê-lo apresentaram uma média de apenas 4,1 microgramas.

Além disso, exames de sangue mostraram que as crianças que comiam amendoim apresentaram maiores níveis de dois tipos de anticorpos relacionados com o mesmo do que as crianças que evitaram as oleaginosas.

A exposição ao amendoim apresentou cinco tipos de efeitos colaterais: infecções do trato respiratório superior, infecções virais da pele, urticária, gastroenterites e conjuntivites – ocorreram com maior frequência entre os comedores de amendoim do que os outros. Todavia, a gravidade desses efeitos colaterais tendeu a ser ligeira ou moderada, de acordo com o estudo. “A intervenção foi segura, tolerada e altamente eficaz”, escreveram os autores do estudo.

A Academia Americana de Pediatria já retirou o seu aval sobre evitar o amendoim. E nos anos após este estudo, pesquisadores relataram resultados semelhantes sobre a alergia a ovos e leite de vaca.

No entanto, muitas questões permanecem. Entre elas: Quanta proteína de amendoim é necessária para que as crianças tenham reduzido o risco de alergia? Será que o efeito protetor se desgasta se as crianças param de comer amendoins?

Os pesquisadores planejam descobrir através de acompanhamento dos participantes do estudo, através de um estudo que eles apelidaram LEAP-On.

Nesse meio tempo, dois especialistas em alergia pediátrica sugerem que bebês com risco de alergia ao amendoim devam tentar um esquema semelhante de exposição.

“Os resultados deste estudo são tão convincentes, e o problema do aumento da prevalência de alergia ao amendoim tão alarmante, que novas orientações devem estar iminentes muito em breve”, escreveram em um editorial que acompanha o estudo no New England Journal of Medicine. “O estudo LEAP deixa claro que nós podemos reverter o aumento da prevalência de alergia ao amendoim.”

Os artigos aqui postados não necessariamente expressam a visão da Empresa.

Artigo traduzido por Essential Nutrition
Autora: Karen Kaplan
Referências:
http://www.latimes.com/science/sciencenow/la-sci-sn-peanut-allergy-leap-study-20150223-story.html#page=1

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